terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Namore uma garota que lê




Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.
Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.
Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criador pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro.
Compre para ela outra xícara de café.
Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gosta ou gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.
É que ela tem que arriscar, de alguma forma.
Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. E isto nunca será o fim do mundo.
Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas  garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim.  E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.
Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Exceto as da série Crepúsculo.
Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até  porque, durante algum tempo, são mesmo.
Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.
Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.
Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que  pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe  monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.
Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.
Texto original: Date a girl who reads – Rosemary Urquico
Tradução e adaptação – Gabriela Ventura

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Teatro Mágico


Aborto certas convicções.
Abordo demônios e manias.

Flagelo-me.

Exponho cicatrizes.
(Amadurecência)





E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
A Luz acesa
Lá se dorme um Sol em mim menor.
(Pena)






Viva a tua maneira
Não perca a estribeira
Saiba do teu valor
E amanheça brilhando mais forte
Que a estrela do norte
Que a noite entregou
(Camarada d'água)






Onde já se viu o mar apaixonado por uma menina?
Quem já conseguiu dominar o amor?
Por que é que o mar não se apaixona por uma lagoa
Porque a gente nunca sabe de quem vai gostar
(Ana e o Mar)









Enquanto for... um berço meu
Enquanto for... um terço meu
Serás vida... bem vinda
Serás viva... bem viva
Em mim

"Os opostos se distraem
Os dispostos se atraem"
(Realejo)




Nesse nosso desbravar
Emanemo-nos amor
Até quando suceder
De silenciar
O que nos trouxe até aqui
Nada melhor virá...
(Da Entrega)


Se aliança dissipar..
e sentença for só desamor!
a tormenta aumentará!
Quando uma comunidade viva!
Insurrece o valor da Paz,
endurecendo ternamente!
(Amanhã... Será?)





Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem
(De ontem em diante)







Se souber nadar, faça-me o favor
O milagre que esperei nunca me aconteceu
Quem sabe só você
Pra trazer o que já é meu
Brilha onde estiver
Faz da lágrima o sangue que nos deixa de pé
(Não há de ser nada)















Mas sonho parece verdade
Quando a gente esquece de acordar
E o dia parece metade
Quando a gente acorda e esquece de levantar
E o mundo é perfeito
(Sonho de Uma Flauta)











Cuida de mim enquanto não esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo, enquanto finjo, enquanto fujo.
(Cuida de Mim)






Mas a distância ingrata
Fez essa tal serenata
Não chegar nem na ladeira
Quem dirá na cabeceira
No motivo e na razão
(Fiz uma canção pra ela)










Parece que a vida inteira esperei para te mostrar
Que na rua dia desses me perdi
Esqueci completamente de vencer
Mas o vento lá da areia trouxe infinita paz
No nosso livro a nossa história é faz de conta ou é faz acontecer? 
(Nosso Pequeno Castelo)    









"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"


Enquanto houver você do outro lado
Aqui do outro eu consigo me orientar
A cena repete a cena se inverte
Enchendo a minha alma daquilo que outrora eu deixei de acreditar


Tua palavra, tua história
Tua verdade fazendo escola
E tua ausência fazendo silêncio em todo lugar


Metade de mim
Agora é assim
De um lado a poesia o verbo a saudade
Do outro a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
E o fim é belo incerto... depende de como você vê
O novo, o credo, a fé que você deposita em você e só


Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você
Só enquanto eu respirar...
(O Anjo Mais Velho)


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O tempo vai passando e eu vou entendendo... Parece que foi ontem que vi o resultado "POSITIVO" impresso naquele papel, e hoje você já está desse tamanho! o tempo passa muito rápido, mas a minha mente tá conseguindo acompanhar. Tem gente que pensa que ser PAI/MÃE é só passar a mão na barriga, fazer cara de bobinho quando o bebê mexe e dizer:" oooolha que fofo o meu filho!" Não. Ser PAI/MÃE de fato vai muito além disso. é ter consciência de que tá chegando alguém que já tá mudando totalmente a sua vida e que essa pessoinha vai depender totalmente de você. É abrir mão de tudo e todos pra que essa criança venha com saúde. Cuidar, SE PREOCUPAR DE VERDADE E ACIMA DE TUDO AMAR. Ter o coração aberto pra chegada desse ser. Ele pode não ter sido planejado, mas ter a ciência de que é preciso estar atento, acompanhando, cuidando desde a concepção, desde quando ele começa a se formar no ventre da mãe. Não é só ligar e dizer: "o neném tá bem?". Não, eu não preciso de fingimentos uma hora dessas. Ser PAI/MÃE é ter consciência de cuidar do bebê e estar sempre presente, eu disse PRESENTE de verdade, desde o momento em que ele é tão pequenininho quanto uma tampa de caneta. Eu estou tentando ser forte em dobro, tentando ter a ciência de que esse ser depende totalmente de mim. Se não querem estar ao meu lado, paciência... Um dia meu filho verá e entenderá tudo o que aconteceu hoje e o porque de ele estar aqui. Quem compreender isso e amá-lo, estará me amando. Minha prioridade agora tem nome: CARLOS EDUARDO. Tem gente que já me mostrou que não se importa nem um pouco com ele, esses já fiz questão de expulsar da minha vida sem dó nem piedade. Agora quem se importa com ele e está esperando tão ansiosamente quanto eu, será muito bem-vindo ao meu lado. Com certeza, meu filho está recebendo todo esse amor, todo esse carinho e isso tá sendo muito importante pra mim nesse momento. VOCÊS que estão me acompanhando (vocês sabem que estou me referindo a vocês), meu MUITO OBRIGADA ! Não sei o que seria de mim e do Cadu sem esse apoio que recebo, não importa se é pouco ou se é muito, mas eu e ele sabemos, agora mais do que nunca, quem nos ama e está do nosso lado, sim eu sei nas mínimas mensagens de preocupação por tel, no facebook, no msn... Ultimamente nem mesmo a distância tem feito uma pessoa muito minha querida deixar de se preocupar e amar o meu menino, sim eu sinto isso ! E sei que ele também sente. Às vezes é difícil conviver com a solidão, mas procuro pensar que logo isso vai passar e meu bebê logo estará em meus braços, preenchendo minhas noites de choro e trocas de fraldas hehehe... Mas também de muito amor. Ser mãe é algo totalmente único e indescritível, só sabe quem o é. Eu queria que meu bebê tivesse um pai de verdade, presente, atencioso e carinhoso, mas Deus sabe o que faz e Ele tratará de dar um pai pro meu bebê, um homem de verdade e não um moleque.
Não sei se posso afirmar se hoje sou outra mulher mas... Hoje afirmo que também tive a oportunidade que muitas mulheres por aí infelizmente não têm: SER MÃE. Cada chutinho do meu filhote é uma emoção, uma alegria, e não gostaria de estar sentindo isso sozinha, queria compartilhar com alguém. Mas o tempo proverá.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Rio-Mar, Mar-Rio

Hoje me senti irresistivelmente impelida a escrever em meio à tantas coisas por fazer. Talvez por ter ouvido muitas histórias hoje que envolvem um elemento que sempre me causou fascinação: a água.Sempre gostei de olhar os movimentos líquidos, a água sempre me proporcionou estranha sensação de que dela sou parte (e porquê dizer que não?). Para mim a água tem uma simbologia muito especial: sinônimo de limpeza, purificação. Durante a história a água é associada a rituais de purificação e santidade, além de ser um dos quatro elementos vitais para o se humano.
Quando me sinto angustiada, carregada demais de sentimentos ruins, gosto de olhar as ondas. Aqui onde estou, sou presenteada pelos movimentos do maior rio do mundo, o Amazonas. E como filha ribeirinha, só me acalmo totalmente depois da visão espetacular do meu amado rio. E quando, depois da chuva colossal do mês de dezembro, o arco-íris surge imponente sobre o Amazonas? Ao vê-lo, sempre penso: aqui é meu lugar !
A alguns meses atrás, eu não conhecia o fantástico ser chamado MAR. E hoje senti uma falta imensa dele, da sensação que assanha meus sentidos ao ver as águas espumantes de sal. Quando tive a oportunidade de estar mais perto dele, não tive dúvidas: eu quero ver! quero sentir!. Soltei da mão que me detia e corri para as furiosas ondas. O mar me acolheu como uma mãe que acolhe um filho. Fechei os olhos e me entreguei às inúmeras sensações que me enchiam. Ouvia o farfalhar das ondas, sentia as pusilânimes batidas do meu coração, minhas veias carregadas do rio amazônida pulsavam em reconhecimento de seu pai e irmão. Meu semblante tupi que carrega o sofrimento do caboclo nortista se enrijeceu diante daquele imperioso ser quando senti as lágrimas encherem meus olhos. Meu coração gritou sua declaração de amor: eis-me aqui.
Abri os olhos e aquela visão esverdeante me entonteceu. Baixei a cabeça e vi que, na pressa, eu tinha cometido a imprudência de mergulhar os pés calçados com sandálias. Recolhi-as e senti o furioso líquido correr entre meus dedos. Olhei para trás e me reconheci no sorriso dos que me acompanhavam. Vem, vamos caminhar! disseram-me.
Pisei na areia macia e fria devido o tempo nublado e enregelante que cobria a cidade naquele dia. O mar continuou seus movimentos de vai-e-vem, como se imitasse o ato sexual. Único. Deslumbrante. O filho que eu ainda não sabia existir no meu ventre deve ter reconhecido a beleza daquele momento.
Todavia, ainda sinto a impetuosa lassidão daquelas águas incansáveis na sua vontade de engolfar a terra. Ainda sinto os membros que me acolhiam quando eu ia de encontro às ondas. Ainda sinto o beijo que sente o gosto salgado da minha pele, arranhando-se em contato comigo. Ainda sinto as mãos que me puxam, dizendo: Vem!
Quando me fiz parte do mar, senti como se vivesse uma vida que não fosse minha, uma felicidade à qual eu não tinha direito, pois dela fui arrancada com furiosa impaciência: Não, você não faz parte disso!. Em meio à lágrimas e saudades, abandonei o mar. Paixão. Saudade. Verdadeira entrega.
Voltei para meu pai, irmão e filho do mar, meu amado Amazonas, tão belo quanto aquele. Às vezes meu rio me molha quando não quero, ao contrário do mar, mas a veracidade dos sentimentos não dá pra negar. Meu filho é filho do rio que nasce dentro de mim e invade aqueles que também de mim fazem parte. O mar não tinha um nome restrito, ele era todos em um. O Amazonas é um em todos. As águas que me acolhem não são as mesmas. O mar tem a salinidade da fúria, o rio tem a doçura das asas dos pássaros. O amor permanece.
E chega o tempo das acácias que murcham sob minhas mãos.
Sim.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Lolita. The End.

"Portanto, nenhum de nós dois estará vivo quando o leitor abrir este livro. Mas, enquanto o sangue ainda pulsa nesta mão com que escrevo, você faz parte, como eu, da bendita matéria universal, e daqui posso te alcançar nas lonjuras do Alasca. Seja fiel a teu Dick. Não deixe que nenhum outro homem te toque. Não fale com estranhos. Espero que você ame teu bebê. Espero que seja um menino. Esse teu marido, assim espero, sempre te tratará bem, porque, se não, o meu fantasma o atacará como uma nuvem de negra fumaça, como um gigante insano, e o destroçará nervo por nervo. E não tenho pena do C. Q. Era preciso escolher entre ele e H. H., e era desejável que H. H. existisse pelo menos alguns meses a mais a fim de que você pudesse viver para sempre nas mentes das futuras gerações. Estou pensando em bisões extintos e anjos, no mistério dos pigmentos duradouros, nos sonetos proféticos, no refúgio da arte. Porque essa é a única imortalidade que você e eu podemos partilhar, minha Lolita".
NABOKOV, Vladimir.    Lolita. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. pg 360.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Sem frescura.

Quais as nossas diferenças, meu bem?

Eu sento no chão. Sei trocar lâmpada. Mato insetos. Abro potes de palmito. Brinco de lutinha. Falo palavrão. Pago as minhas contas. E não falo miando.

Eu não sou mulherzinha, mas choro em filmes de amor e estou sempre bonita e cheirosa. Não sou mulherzinha, mas não lavo a louça no dia em que faço a unha. Procuro deixar a malhação em dia e vivo descobrindo creminhos milagrosos. 

Eu NÃO SOU fresca (sabem disso!), mas AMO ser cuidada. Curto um mimo, carinho, dengo e proteção. Adoro flores, gosto de romance de portão e gestos e demonstrações de cavalherismo. E você?

A diferença entre nós, querida, é que EU NÃO sugo: recebo e retribuo como qualquer mortal não-fresco.

Fica a dica ! ;)

sábado, 11 de junho de 2011

Entre Mares


Chore não, viu?
A distância e a ânsia
crescem
com o mar a separar,
mas o que por dentro
nos há
há de procriar,
assim longe,
proximidade e paz.
No aconchego da distância,
nesta ânsia de colos
e afetos,
um beijo veleja o vento
verde
e amadurece
em meu espírito,
tal molhe de dique
rende-se à
sucessividade sísmica
das ondas.

Recife, 19 de janeiro de 2005                            (Verscidades – Leonardo Leão)

segunda-feira, 9 de maio de 2011


Te quero
Para minha cama
Belo rapaz
Mas não esquente
Não quero teu respeito
Já faz tempo
Que estou a me oferecer
Para teu olhar
E teu mastro
Que não quero santo
Dentro de mim
Mas somente
Rezando ladainhas
Em latim e latidos
Desse desejo sem fim
(Carla Nobre)