segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Reminiscências


Reminiscências

Uma chama remanescente
Insistente e negligente
Que persiste em queimar

Seu calor se faz ausente
Mas as reminiscências presentes
Acabam por machucar

Imaginar o que seria
Mesmo depois da despedida
Mesmo com todas as partidas

Resta te desejar uma paz mais forte e tão derradeira quanto a minha
Que sua alma logo se faça feliz nos caminhos de outro guia
Que seu corpo se sinta a vontade nos braços de outra moradia

Quem dera se esse amor fosse embora tal qual a avalanche em que veio
Repentina e sem jeito
Arrastando, integrando e reformando o peito

Onde hoje bate um coração com certeza modificado
Que sem o costume de estar ao seu lado
Sorri, chora e vive esse amor eternamente inacabado


(Thiago Braz)

terça-feira, 15 de maio de 2012

UM DIA...

Um dia, descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.
Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...Um dia, nós percebemos que as mulheres tem extinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer.Um dia, descobrimos que se apaixonar é inevitável.Um dia, percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples.Um dia, percebemos que o comum não nos atrai.
Um dia, saberemos que ser classificado como o "bonzinho" não é bom.
Um dia, percebemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você.
Um dia, saberemos a importância da frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."
Um dia, perceberemos que somos muito importante para alguém mas não damos valor a isso.
Um dia, perceberemos como aquele amigo faz falta, mas aí já é tarde demais.

Enfim... um dia, descobriremos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer tudo o que tem que ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.

Mário Quintana

domingo, 6 de maio de 2012

E lá vem eu fazer mais um desabafo por aqui... Fazer o quê se é o único lugar em que posso falar sem que fiquem apontando o dedo pra mim e me julgando.
É uma coisa muito complicada quando você passa por uma confusão de sentimentos onde nem você mesmo consegue se entender. Sei os motivos da minha constante melancolia e culpa, através de uns recentes acontecimentos... Enfim, tou tendo que reconstruir muita coisa na minha vida às voltas com um serzinho totalmente dependente de mim. Olho pra ele e penso: "não posso desistir, não agora."
Mas quantas vezes num dia só me bate aquela vontade de jogar tudo pro alto! Sem falar na sensação de ter sido traída (falando de amizade), o que é horrível. Meus amigos me perguntam o que tá acontecendo comigo e eu não consigo explicar, sei que a perda tá me maltratando bastante, tenho até me esquecido de mim...
Porém, eu venho requirir o direito.
Do direito de viver.
Do direito de ser eu mesma.
Do direito de tropeçar quantas vezes forem necessárias.
Do direito de me arrepender.
Do direito de sentir saudade.
Do direito de ser mulher.

Eu nunca quis machucar ninguém, de verdade. Só sei que acabo muitas vezes agindo sem pensar, falando sem pensar. Sinto falta de algumas coisas, de algumas pessoas. De outras, quero distância, pois pretendo deixar esses novos planos agirem em mim, e que venha uma nova vida! Como li certa vez: "Deus age na hora certa... Nada é por acaso". Tem gente que deve tá pensando que meu sofrimento é uma forma de eu tá pagando por atitudes erradas... Pode até ser, mas nem tudo é pra sempre. Tudo acaba. Tudo passa, sabia? E eu não quero ficar aqui me enganando com falsas promessas, falsas expectativas, falsos amores, ou o que mais falso tiver. Tenho tanta coisa pra aproveitar, pra viver. Tem uma pessoinha ali deitada na minha cama me esperando... Não tenho mais tempo a perder, me enganando com coisas tão superficiais, afinal, cada um sabe o que faz da sua vida. Mas cuidado! Quem avisa, além de ser amigo, também ama. Cuidado ou a história acaba se repetindo.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Travessuras da Menina Má

"-Posso saber por que me procurou?
- Queria ver você e conversar um pouco - disse, sorrindo outra vez. - Estava com saudades. Você também estava, pelo menos um pouquinho?
- Você sempre reaparece e me procura no intervalo entre dois amantes - respondi, ainda tentando me livrar da sua mão. Desta vez consegui. - O marido de Marine largou você? Veio descansar nos meus braços até que o próximo velhote caia na sua rede?
- Não - interrompeu, segurando de novo a minha mão e falando no tom zombeteiro de antes. - Resolvi acabar com as minhas loucuras. Vou passar meus últimos com o meu marido. Sendo uma esposa modelo.
Comecei a rir e ela também. Arranhava minha mão com seus dedinhos e eu sentia cada vez mais vontade de arrancar-lhe os olhos.
- Você tem um marido? Posso saber quem é?
- Ainda sou sua mulher e posso provar, tenho as certidões - disse, com o rosto sério. - Você é o meu marido. Não lembra mais que nos casamos na mairie do cinquième?
- Foi uma farsa, só para conseguir os documentos - recordei. - Você nunca foi realmente minha mulher. Ficou comigo umas temporadas, quando estava com problemas, enquanto não conseguia coisa melhor. E quer me dizer de uma vez por todas para que me procurou agora? Porque, se estiver com problemas, eu não poderia ajudá-la nem se quisesse. Mas não quero. Não tenho um tostão, e moro com uma moça que amo e que me ama [...] Sabe de uma coisa, menina má? - disse atraindo-a um pouco para poder falar em voz bem baixa, com toda a cólera que tinha acumulado. - Lembra daquela noite, no apartamento, quando estive a ponto de apertar o seu pescoço? Lamentei mil vezes não tê-lo feito.
- Ainda guardo aquele vestido de bailarina árabe - sussurrou, co toda a malícia que ainda tinha. - Lembro muito bem daquela noite. Você bateu em mim e depois fizemos amor bem gostoso. Você falou umas coisinhas muito bonitas. Hoje ainda não me disse nenhuma. Estou quase acreditando que realmente não me ama mais.
Tive vontade de esbofeteá-la, de expulsá-la do Bar Barbieri aos pontapés, de causar-lhe todos os danos físicos e morais que um ser humano pode causar em outro, e ao mesmo tempo, grande imbecil, tive vontade de abraçá-la, perguntar por que estava tão magrinha e abatida, acariciá-la e beijá-la. Ficava de cabelo em pé só de imaginar que pudesse ler meus pensamentos.
- Se quiser que eu reconheça que agi mal com você e fui muito egoísta, reconheço - sussurrou, aproximando o rosto, mas eu afastei o meu. - Se quiser que passe o resto da vida dizendo que Elena tem razão, que maltratei você e não soube valorizar o seu amor e todas essa bobagens, está bem, faço isso. É o que você quer para esquecer as mágoas, Ricardito?
- Quero que você vá embora. Que desapareça da minha vida de uma vez por todas, para sempre.
- Puxa, uma breguice. Já era hora, bom menino.
[...]
- Você é a pessoa mais perversa que já conheci, menina má. Um monstro de egoísmo e insensibilidade. é capaz de apunhalar com frieza as pessoas que melhor a trataram.
 - Bem, talvez seja mesmo - admitiu. - Mas também levei muitas punhaladas da vida, acredite. Não me arrependo de nada. Bem, exceto ter feito você sofrer. Agora resolvi mudar. Por isso estou aqui.
Ficou me olhando com uma cara de mosquinha morta que me irritou ainda mais.
- Eu sou gato escaldado. Acha que vou levar a sério esse teatrinho de esposa arrependida? Logo você, menina má?
- É, sim, logo eu. Vim porque amo você. Porque preciso de você. Porque não posso viver com ninguém que não seja você. É um pouco tarde, mas agora sei. Por isso, de hoje em diante, mesmo que passe fome e tenha de viver feito uma hippie, vou viver com você. E com ninguém mais. Gostaria que eu virasse uma hippie e deixasse de tomar banho? Ou me vestisse como aquele espantalho com quem mora? O que você quiser, eu faço.
[...]
- Preciso que você assine alguns papeis - disse a menina má, apontando para a pasta que tinha deixado no chão.
- O único papel que eu assinaria seria de divórcio, se esse casamento ainda valesse - respondi. - Conhecendo você, não me surpreenderia se se me fizesse assinar alguma embrulhada e eu acabasse na cadeia. E conheço você há quarenta anos, chilenita.
- Conhece mal - disse ela, muito tranquila. - Talvez eu até possa fazer maldades com outros. Mas com você, não.
- Pois fez as piores maldades que uma mulher pode fazer com um homem. Porque me fez acreditar que me amava, enquanto seduzia outros homens com a maior tranquilidade do mundo, só porque tinham mais dinheiro, e me largava sem o menor peso na consciência. Não foi uma vez, foram duas ou três. E sempre me deixava destroçado, atônito, sem ânimo para fazer nada. E ainda tem o atrevimento de voltar, mais uma vez, para dizer com a cara mais cínica do mundo que quer morar comigo de novo. Para ser sincero, parece um número de circo.
- Estou arrependida. Nunca mais vou fazer nenhuma maldade com você.
- Não vai ter oportunidade, porque nunca mais vamos morar juntos. Ninguém a amou tanto como eu amei, ninguém fez tudo o que eu... Bem estou me sentindo um idiota falando essas coisas. O que quer de mim?
[...]
Então, antes que eu pudesse impedir, enlaçou meu pescoço com os braços e se prendeu a mim com todas as forças.
- Pare de brigar comigo e de me dizer maldades - protestou, enquanto me beijava no pescoço. - Diga que está contente de me ver. Diga que sentiu saudades de mim e que me ama, não a essa hippie com quem mora neste chiqueiro.
Eu não tinha como afastá-la, aterrorizado ao sentir o esqueleto que era o seu corpo, sua cintura, suas costas, seus braços, em que todos os músculos pareciam ter desaparecido, um corpo só de pele e ossos. A frágil, delicada pessoinha que se apertava contra mim exalava uma fragrância que me fazia pensar num jardim cheio de flores. Não pude continuar disfarçando.
- Por que está tão magrinha? - perguntei no seu ouvido.
- Diga primeiro que me ama. Que não ama essa hippie, que foi morar com ela só por despeito, porque larguei você. Diga. Desde que soube que estava com ela, fiquei morrendo de ciúmes.
Eu sentia agora seu pequeno coração, pulsando contra o meu. Busquei sua boca e a beijei, longamente. Senti sua linguinha enredada na minha e engoli sua saliva. Quando pus a mão por baixo da blusa e acariciei suas costas, senti toda a coluna vertebral como se uma ínfima película de carne as separasse dos meus dedos. Não tinha seios; seus mamilos, diminutos, ficavam no nível da pele.
- Por que está tão magrinha? - tornei a perguntar. - Esteve doente? O que houve?
- Não posso fazer amor com você, não toque aí. Fui operada, tiraram tudo. Não quero que me veja nua. Estou com o corpo cheio de cicatrizes. Não quero que tenha nojo de mim.
Estava chorando de desespero e eu não conseguia acalmá-la. Então sentei-a no meu colo e a acariciei por muito tempo, como costumava fazer em Paris, durante seus ataques de medo. Sua bundinha também havia encolhido, como os peitos, e suas coxas eram tão finas quanto os braços. Parecia um daqueles cadáveres vivos que aparecem nas fotografias de campos de concentração. Eu a acariciava, beijava, dizia que a amava, que cuidaria dela e, ao mesmo tempo, sentia um terror indescritível, porque tinha certeza absoluta de que ela não havia estado grave, sabia que estava grave agora, e que muito em breve iria morrer. Ninguém podia emagrecer daquele jeito e depois se recuperar.
- Ainda não me disse que me ama mais que a essa hippie, bom menino.
- É claro que amo você mais que a ela ou qualquer outra pessoa, menina má. Você é a única mulher no mundo que amei e que amo. E, embora tenha feito maldades comigo, também me deu uma felicidade maravilhosa. Vamos, quero sentir você nua nos meus braços e fazer amor.
[...]
- Eu não queria que me visse assim nem que sentisse nojo da sua mulher - disse ela. - Mas...
- mas eu a amo e vou cuidar de você até ficar completamente curada. Por que não me chamou, para fazer companhia?
- Não encontrava você em lugar nenhum. Estou procurando há meses. Era isso o que mais me desesperava: morrer sem tornar a vê-lo.
[...]
Durou mais 37 dias, durante os quais se comportou, como tinha jurado no Bar Barbieri, como uma esposa modelo. Pelo menos, enquanto as dores terríveis não a mantinham na cama, sedada com morfina. Fui morar com ela no apart-hotel de Los Jerónimos onde estava hospedada [...] Durante duas semanas, ela passou tão bem, parecia tão contente que, contrariando toda lógica, pensei que podia se recuperar. Uma tarde, sentados no jardim, ao crepúsculo, ela me disse que se algum dia eu pensasse em escrever a nossa história de amor, não a deixasse muito mal, senão o seu fantasma viria me puxar os pés todas as noites.
- E por que pensou isso?
- Porque você sempre quis ser escritor, e nunca teve coragem. Agora que vai ficar sozinho, pode aproveitar, assim esquece a saudade. Pelo menos, confesse que lhe dei um bom material para escrever um romance. Não foi, bom menino?"

LLOSA, Mario Vargas. Travessuras da Menina Má/ Mario Vargas Llosa; tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht. - Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

sábado, 3 de março de 2012

Falta pouco...

Daqui a uns pouquíssimos dias terei uma mãozinha agarrando meus dedos feito o que está ilustrado na foto. Finalmente meu filho vai chegar ao mundo e o mais incrível? Não tô acreditando nem um pouco nisso.
Dias atrás eu andava reclamando de uma ansiedade que não me largava, não me deixava em paz. Depois que marquei a data da cirurgia simplesmente a ansiedade foi embora... Acho que estou ficando louca. Como assim, a lógica era que eu ficasse mais nervosa né? Mas não, tô esperando meu bebê serena e tranquila...
Caramba meu, vou ser mãe ! Isso é incrível demais pra minha cabeça. Às vezes eu penso se eu deveria transformar esse blog num espaço para mamães e bebês, mas não, vou deixar do jeito que está, escrevo o que me der na telha e pronto. Agora estou vivendo um momento único das proximidades do nascimento do meu primeiro menino. Eu sei que isso vai virar minha vida de ponta-cabeça, mas ainda não tô conseguindo digerir.
O que mais morro de curiosidade é o momento da amamentação. Poder oferecer o seio como alimentação a um ser tão indefeso me mata de ansiedade, sentir seus olhos nos meus, suas mãozinhas se escondendo nas minhas... Sério, mais do que ver o rosto do meu filho, eu quero é amamentá-lo.
De repente, a perspectiva de ser mãe solteira dissipou-se diante de mim. Sei que vai ser difícil, porém, de súbito passei a não me preocupar muito com isso... Se for o destino que seja somente eu e o meu filho, assim será. Não abro mão do meu menino nem pelo homem que eu mais ame no mundo. E o homem que eu mais amo no mundo sabe disso.
Não sei porque falo essas coisas, nem ainda vi meu bebê ! Porque de repente esses pensamentos tomam a minha mente? Sinceramente não sei responder! Tá ok, estou grávida e tal, mas ainda não saboreei de fato o gosto de ser mãe, isso ainda está por vir quando eu o tiver nos meus braços! Porque então afirmo tais coisas com tanta convicção? Será que é verdade o tal ditado que todo mulher já tem um instinto materno pronto a ser aguçado no instante que gera um ser em seu ventre? Pelo visto sim....
Enfim, junto com Cadu, uma nova Eloany vai nascer. Das minhas decisões estou convicta. Quem estiver pronto a me amar e amar o meu menino... será muito bem-vindo e a recíproca será mais que verdadeira.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Era uma vez...

... uma linda borboletinha, bem pequenina mas com as asas bem fortes e coloridas. Ela voava junto com o ar que era o responsável por levar-lhe a alguns lugares e jardins que ela adoraria retornar, outros ela não gosta nem de lembrar.
Um belo dia, a borboletinha resolveu visitar um lugar bem diferente, pois ela andava muito tristonha e entediada. Depois de passar por muitos jardins, uns feios, outros bonitos, de ar muito agradável, outros até possuíam flores que lhe contavam inúmeras piadas ! As flores conversavam muito com ela, e, a despeito de algumas rosas que esconderam seus espinhos só para feri-la no momento certo, ela gostava muito de conversar com as flores.
Até que ela se deu conta que estava num lugar que nunca tinha visto antes. Tinha areia e cheirava a sal. Mas também alguns campos verdes e molhados. As flores sorriam para ela, brilhantes e ensolaradas. Ela ficou tão encantada com aquilo que parou por um instante, tentando absorver a singular beleza daquele jardim. Aquele não era um jardim qualquer, disso ela tinha certeza. Foi a partir de então que surgiu uma linda história de amor. Todos os dias a borboletinha pousava numa flor (aquelas espécies de flores eram raríssimas, nem a sábia ciência sabia da existência delas), abria as asas, deixava a água salpicar-se entre elas e também deixava o sol entrar, espalhando todo seu colorido. Cada dia ela se dedicava a conhecer cada pedacinho daquele jardim, as noites eram frescas e estreladas e ela gostava de deixar um gostinho de mel em cada flor que havia pousado, um mel específico criado por ela e para ela.
Um dia, conversando com uma flor que lhe contava o que acontecia antes da borboletinha chegar ali. A flor lhe contou que tudo havia se transformado com a chegada dela, antes chovia muito naqueles campos arenosos, as flores não se abriam e o sol brilhava fraco. Mas quando ela chegou, tudo passou a ser diferente. As flores gostavam do mel da borboletinha e o sol se apaixonou pelas cores de suas asas. Foi quando a borboletinha decidiu que iria ficar ali, para sempre.
Mas, num segundo de distração, engaiolaram a pobre da borboletinha. Tiraram-lhe a liberdade. Suas asas murcharam e todo dia ela chora na gaiola, procurando desesperadamente uma saída, uma fuga. As flores murcharam, o sol se apagou, a chuva voltou. As flores clamam e perguntam sempre por ela: onde andará?. A borboletinha precisa do seu jardim pra renovar suas asas, e o jardim precisa da borboletinha pra sobreviver, devolvam-na!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Cântico Negro


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
(José Régio)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Hoje minha única companheira veio me contar que vai passar uma semana fora. A primeira coisa que pensei: 'Meu Deus, com quem vou ficar?'. Apesar de às vezes chamarem de frescura de grávida, realmente me encontro num estado que não posso ficar sozinha, entrei oficialmente no 3º trimestre de gestação e a qualquer momento meu menino pode decidir vir.
É impressionante como todo mundo me olha com ar de: 'Ooooolha que lindo, ela tá grávida!'. Mal sabem o sufoco que passo. Claro que uma gravidez tem seu lado bom, é algo único na vida de uma mulher e com certeza eu nunca vou me esquecer dessa experiência. Mas a dor de cuidar de um filho sozinha...
E ninguém pode fazer nada. Ninguém vai sair do conforto de suas casas pra cuidar do filho dos outros. Ninguém tem compromisso nenhum comigo a não ser minha mãe, aliás, nem a minha mãe! É tão duro viver controlada, cheia de restrições, não poder viver a mesma vida que os meus amigos, tudo em prol desse ser que cresce dentro de mim. E é nessas horas que bate a tristeza de ter sido fraca a sete meses atrás, quando eu podia ter evitado isso tudo e hoje eu não estaria nessa situação. Vejo pais que babam por seus filhos, que ao verem sua mulher gerando um ser que é pedacinho dos dois ficam extremamente amorosos. É duro não ter esse carinho. É difícil não ser amada por ser mãe.
Queria ter alguém que nunca me desamparasse, alguém que soubesse engolir meus nervosismos a favor de cuidar do bebê, alguém que cuidasse de mim, alguém que fosse paciente com minhas chatices, mas é que eu tô tão cansada... Meus pés estão cansados e inchados desse peso, e antes que me julguem, não estou arrependida do meu filho, afinal, ele tem sido minha única esperança... Eu me arrependo é da má escolha da pessoa que fiz pra constituir uma "família" que nunca vai existir.