terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Era uma vez...

... uma linda borboletinha, bem pequenina mas com as asas bem fortes e coloridas. Ela voava junto com o ar que era o responsável por levar-lhe a alguns lugares e jardins que ela adoraria retornar, outros ela não gosta nem de lembrar.
Um belo dia, a borboletinha resolveu visitar um lugar bem diferente, pois ela andava muito tristonha e entediada. Depois de passar por muitos jardins, uns feios, outros bonitos, de ar muito agradável, outros até possuíam flores que lhe contavam inúmeras piadas ! As flores conversavam muito com ela, e, a despeito de algumas rosas que esconderam seus espinhos só para feri-la no momento certo, ela gostava muito de conversar com as flores.
Até que ela se deu conta que estava num lugar que nunca tinha visto antes. Tinha areia e cheirava a sal. Mas também alguns campos verdes e molhados. As flores sorriam para ela, brilhantes e ensolaradas. Ela ficou tão encantada com aquilo que parou por um instante, tentando absorver a singular beleza daquele jardim. Aquele não era um jardim qualquer, disso ela tinha certeza. Foi a partir de então que surgiu uma linda história de amor. Todos os dias a borboletinha pousava numa flor (aquelas espécies de flores eram raríssimas, nem a sábia ciência sabia da existência delas), abria as asas, deixava a água salpicar-se entre elas e também deixava o sol entrar, espalhando todo seu colorido. Cada dia ela se dedicava a conhecer cada pedacinho daquele jardim, as noites eram frescas e estreladas e ela gostava de deixar um gostinho de mel em cada flor que havia pousado, um mel específico criado por ela e para ela.
Um dia, conversando com uma flor que lhe contava o que acontecia antes da borboletinha chegar ali. A flor lhe contou que tudo havia se transformado com a chegada dela, antes chovia muito naqueles campos arenosos, as flores não se abriam e o sol brilhava fraco. Mas quando ela chegou, tudo passou a ser diferente. As flores gostavam do mel da borboletinha e o sol se apaixonou pelas cores de suas asas. Foi quando a borboletinha decidiu que iria ficar ali, para sempre.
Mas, num segundo de distração, engaiolaram a pobre da borboletinha. Tiraram-lhe a liberdade. Suas asas murcharam e todo dia ela chora na gaiola, procurando desesperadamente uma saída, uma fuga. As flores murcharam, o sol se apagou, a chuva voltou. As flores clamam e perguntam sempre por ela: onde andará?. A borboletinha precisa do seu jardim pra renovar suas asas, e o jardim precisa da borboletinha pra sobreviver, devolvam-na!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Cântico Negro


"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
(José Régio)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Hoje minha única companheira veio me contar que vai passar uma semana fora. A primeira coisa que pensei: 'Meu Deus, com quem vou ficar?'. Apesar de às vezes chamarem de frescura de grávida, realmente me encontro num estado que não posso ficar sozinha, entrei oficialmente no 3º trimestre de gestação e a qualquer momento meu menino pode decidir vir.
É impressionante como todo mundo me olha com ar de: 'Ooooolha que lindo, ela tá grávida!'. Mal sabem o sufoco que passo. Claro que uma gravidez tem seu lado bom, é algo único na vida de uma mulher e com certeza eu nunca vou me esquecer dessa experiência. Mas a dor de cuidar de um filho sozinha...
E ninguém pode fazer nada. Ninguém vai sair do conforto de suas casas pra cuidar do filho dos outros. Ninguém tem compromisso nenhum comigo a não ser minha mãe, aliás, nem a minha mãe! É tão duro viver controlada, cheia de restrições, não poder viver a mesma vida que os meus amigos, tudo em prol desse ser que cresce dentro de mim. E é nessas horas que bate a tristeza de ter sido fraca a sete meses atrás, quando eu podia ter evitado isso tudo e hoje eu não estaria nessa situação. Vejo pais que babam por seus filhos, que ao verem sua mulher gerando um ser que é pedacinho dos dois ficam extremamente amorosos. É duro não ter esse carinho. É difícil não ser amada por ser mãe.
Queria ter alguém que nunca me desamparasse, alguém que soubesse engolir meus nervosismos a favor de cuidar do bebê, alguém que cuidasse de mim, alguém que fosse paciente com minhas chatices, mas é que eu tô tão cansada... Meus pés estão cansados e inchados desse peso, e antes que me julguem, não estou arrependida do meu filho, afinal, ele tem sido minha única esperança... Eu me arrependo é da má escolha da pessoa que fiz pra constituir uma "família" que nunca vai existir.